sexta-feira, 19 de novembro de 2010

No fim

No fim, no limiar do cansaço
Não haverá quem me abrace e me assevere com a arrogância de um deus que não voltarei a ter frio
No fim, restam-me a tremura inquieta do corpo e a consciência das células congeladas no decurso de um Inverno inacabável
No fim, é só a alquimia da conversão natural dos líquidos em sólidos a suster-me as lágrimas
No fim, estou eu

Aquém e além do espelho
Envergando o traje de uma existência gélida
No fim, não haverá labaredas que me aqueçam
Nem pequenas fogueiras
Nem minúsculas chamas
Mas só o estalido intrépido dos cristais em propagação contínua na superfície interior e exterior de mim
No fim
Só o frio
Só a ferocidade silenciosa das lâminas
Só o branco
Entrecortado pelo rubor de duas ou três gotas de sangue

Dezembro/2004

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