sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Morri num dia qualquer

Ainda respiro
Ainda penso
E escrevo e leio que respiro e penso
E penso e leio que respiro
E ainda sonho às vezes
para que me esqueça
Do inferno inteiro
sem nada que me aqueça

Quantas horas de silêncio?
Quanto tempo sem chama?
Raios frios de sol
Gotas secas de chuva
Quantas flores de plástico
ainda me hão-de sorrir?
Quantos dias sem horas?
Quantas ondas sem espuma?
De quantas inspirações e expirações
será o meu corpo capaz
com o tempo parado?

Ainda respiro
Ainda penso
Ainda lembro às vezes
sem convicção nenhuma
um sopro de vida
Todos os dias tento
invento e reinvento
um caminho impossível
para a saída

A minha cabeça
nunca descansa
tranquila na almofada
Há quanto tempo não sinto nada!

Morri num dia qualquer
Não sei se foi em Setembro… ou Maio…
Não há flores nem dizeres na minha campa
Ninguém me chora
Ninguém me lembra
Morri num dia de sol
Distraída… não dei por nada
Só me lembro de acordar
E já lá não estar
A terra não me pesou
Os pássaros continuaram a cantar

Novembro/2010





4 comentários:

  1. está lindo... mas é profundamente triste

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  2. Não posso dizer que estou surpreendido. E vou estar muito entretido até chegar ao último post.
    :)

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  3. Anónimo,

    A beleza é também feita de lágrimas.

    "Nem tudo é dias de sol,
    E a chuva, quando falta muito, pede-se
    Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
    Naturalmente, como quem não estranha
    Que haja montanhas e planícies
    E que haja rochedos e erva ..."

    Alberto Caeiro

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  4. Shark,

    Infelizmente os tubarões não se surpreendem com facilidade. Eu, porém, gosto de desafios... :) Bons passeios!

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